04/03/2012

Das leis



"O governo, diz-se, preencheu na sociedade o papel de pai: ora, que pai jamais se lembrou de fazer um pacto com a familia? De outorgar uma carta a seus filhos? De fazer um equilibrio de poderes entre ele e a mãe? O chefe da familia, no governo é inspirado no seu coração; não rouba o dinheiro dos filhos, sustenta-os com seu trabalho; guiado por seu amor, não se aconselha senão com o interesse dos seus e das circunstancias; sua lei é a sua vontade, e todos, a mãe e os filhos, confiam nela. O pequeno estado estaria perdido se a ação paternal encontrasse a menor  oposição, se estivesse limitada  em suas prerrogativas e determinada de antemão em seus efeitos. Pois quê! Seria verdade que o governo não é um pai para o povo, visto que ele se submete a regulamentos, transgride com seus súditos e se torna escravo de uma razão que, divina ou popular, não é a sua?
Se fosse assim não vejo porque eu me submeteria a lei. Quem é que nela me garantiu a justiça, a sinceridade? De onde ela me vem? Quem a fez?
(...)
Ora, a lei foi feita sem minha participação, apesar de meu absoluto desacordo, apesar do prejuízo que ela me fez aguentar. O Estado não negocia nada comigo, não permuta nada, ela me saqueia. Onde portanto esta o vinculo, vinculo de consciencia, vinculo de razão, vinculo de paixão ou interesse que me obriga?
(...)
Estou pronto a negociar, mas não quero leis, não reconheço nenhuma dela, protesto contra toda ordem que convirá a um poder com suposta necessidade de se impor a meu livre-arbitrio. Leis! Sabe-se o que elas são e o que elas valem. Teias de aranha para os poderosos e ricos, cadeias que arma alguma teria meios de romper para os pequenos e pobres, rede de pesca entre as mãos do governo.
(...)
em lugar de um milhão de leis, uma unica é suficiente. Qual sera esta lei? Não faça ao outro o que vós não quereis que se vos faça, faça a outro como desejais que seja feito."

*Proudhon - A Propriedade é um Roubo e Outros Escritos Anarquistas.